Por Guilherme Prado *

Vale introduzir um tema que futuramente será abordado pelo professor Genauto Carvalho Filho, da UFBA, na nossa Revista Alternativas Solidárias. Há quem pense que a Economia Solidária versa sobre a microeconomia apenas, e a microeconomia para a esquerda tem importância minoritária.

Isso está errado, primeiro porque a microeconomia dita o subjetivo das comunidades econômicas e não é menos importante por isso. É no micro que as relações econômicas se dão. Porém, achar que a Economia Solidária não é importante para a macroeconomia é um grande erro.

Desescalar a macroeconomia e regionalizar a microeconomia é, de alguma forma, uma proposta interessante.

O Socialismo fala sobre democracia econômica, e não há democracia econômica que expolie o local em detrimento do global. É no território que os trabalhadores e a natureza produzem a riqueza. Assim o capitalismo trabalha com a distribuição desigual de excedentes, o tal “desenvolvimento do subdesenvolvimento” de Andre Gunder Frank. Dito isso, socialismo passa por um profundo projeto de relocalização da economia.

Por várias questões, mas principalmente as ecológicas, a economia de escala como conhecíamos já faz parte do problema. Vemos isso, por exemplo no sistema alimentar: como a globalização da produção de alimentos produz pandemias, explora agricultores, além de tornar dependentes vários países.

Se só uma região de um país produz alimentos para uma nação, ou pior, para o mundo todo, todos dependem das condições de produção desse local (especialmente climáticas). Ou seja, a macroeconomia é pensada só como uma questão de custos, e nunca como uma questão de subsistência, autonomia e resiliência. Vimos isso quando percebemos que poucos países podem produzir vacinas nessa pandemia. É um pensamento quase irracional e anacrônico quando pensamos em alimentos: quanto mais nossos alimentos precisam de combustíveis para chegar na nossa mesa, mais ameaçado estamos, vide a última greve dos caminhoneiros.

A Economia Solidária pode ajudar a fazer o que a teoria do desenvolvimento não teve fôlego ou ousadia para fazer, apesar de suas grandes contribuições.

Discutir macroeconomicamente a microeconomia e vice versa é uma tarefa que a Ecosol pode fazer em um mundo constrangido pelos limites ecológicos. Regionalizar cadeias produtivas, um objetivo complicadíssimo e que demanda várias outras cabeças para nos ajudar, é o paradigma para um pós-desenvolvimentismo ecologicamente correto, socialmente justo e democrático.

* Guilherme Prado é mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC (UFABC), militante do PSOL e coordenador da Livres Coop – Rede Agroecológica de Produção e Consumo